Chico do Cachené
Fernando Farinha
Certa vez, foi á noitinha
O Chico do cachené
Chamou-me e disse, Farinha
Vou contar-te a vida minha
Para saberes como é
Bem criado e malfadado
Os meus pais, tinham de seu
Por eles era adorado
Instruído e educado
Cheguei a andar no liceu
Eu era menino e moço
Simples como uma donzela
Mas um dia, que alvoroço
Passei à Rua do Poço
Vi a Micas, gostei dela
Vivi com ela dez anos
Duas vezes lhe puz casa
Mas os seus olhos tiranos
Vadios como dois ciganos
Fugiram, bateram asa
Hoje não tenho um afago
Um carinho, uma afeição
Sou um esquecido mal pago
E é no vinho que eu apago
O fogo deste paixão
Depois de contar-me a vida
O Chico pôs-se de pé
Pediu mais uma bebida
E uma lágrima atrevida
Caiu-lhe no cachené
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